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Inovação

9 abril, 2013

No limiar da inovação

 “Você pode e deve ser um líder em inovação,

porque se não for, alguém certamente o será.”

(Joel Barker)

 

 
O mundo corporativo é um grande funil. Milhões de companhias em busca do sucesso disputando espaço no coração, na mente e no bolso dos consumidores. Em meio a produtos e serviços similares, empresas claudicantes e clientes infiéis, sobrevivem e se destacam aquelas capazes de se reinventar e construir seu próprio futuro. Estamos falando de empresas inovadoras.
 
Uma inovação é o resultado da associação de dois ou mais fatores que podem ou não guardar aderência entre si, mas que geram um terceiro fator identificado como novo. O renomado futurólogo Joel Barker, em seu vídeo intitulado “No limiar da inovação”, distribuído com exclusividade no Brasil pela Siamar, vai além.
 
Barker apresenta o conceito de limiar da inovação, um lugar onde algo e algo diferente se encontram. Podemos reduzir isso em outra palavra: convergência. A combinação de ideias, de produtos, de serviços, de estratégias. Um movimento interdisciplinar, reunindo conhecimentos variados; multidisciplinar, agrupando diferentes disciplinas; e transdisciplinar, congregando teoria e prática. Vejamos alguns exemplos.
 
1. Sacola para presente. Mais de cem anos após a invenção das sacolas de papel e 60 anos da criação dos papéis de embrulho decorados, estes dois produtos relativamente simples se uniram para gerar as sacolas para presente. Uma solução inteligente e diferenciada de embalagem demonstrando que a inovação está ao nosso redor.
 
2. Hotelaria hospitalar. Como amenizar o desconforto de um paciente internado, privado de suas atividades cotidianas, da companhia de seus familiares e da liberdade de sentir a brisa ou o calor do sol? As redes de hotéis de luxo têm ensinado aos administradores hospitalares que a estadia deve ser agradável; a alimentação, saborosa; e o atendimento, impecável.
 
3. Velcro. A invenção do engenheiro suiço George de Mestral surgiu de sua observação dos carrapichos, nome popular das sementes de arctium, que grudavam em sua roupa e nos pelos de seu cão em suas caminhadas pelos Alpes. Analisando ao microscópio, Mestral notou que a estrutura dos filamentos formava pequenos ganchos nas extremidades que se prendiam às argolas formadas pelos fios do tecido das roupas. Assim nasceu o velcro, do francês velours (veludo) e crochet (gancho), um produto composto de dois materiais sintéticos que reproduzem o mecanismo de junção de um gancho a uma argola.
 
A inovação no limiar desta invenção veio da Alemanha, onde engenheiros da Universidade de Munique desenvolveram um velcro de aço com capacidade para suportar até 35 toneladas por metro quadrado em ambientes com temperaturas de até 800ºC.
 
4. Transporte aéreo de passageiros. Este é um serviço que poderia ser qualificado como venda de “economia de tempo”. De fato, as pessoas usam aviões porque pretendem chegar mais rapidamente ao seu destino. Contudo, a sistemática atual exige que um passageiro esteja no aeroporto com cerca de uma hora de antecedência, enfrentando filas terríveis para fazer o check-in e despachar a bagagem. E, no desembarque, perca novamente muito tempo para restituir seus pertences.
 
Embora todas as companhias aéreas, sem exceção, não tenham esta perspectiva – e, exatamente por isso, estejam perdendo mercado para os trens de alta velocidade – alguém inovou no limiar inspirando-se possivelmente nos bancos para permitir a realização do check-in via terminais de autoatendimento ou on-line, pela internet.
 
5. Outdoor. A peça de mídia exterior é convencionalmente formada por colagem de folhas impressas sobre placas de madeira ou metal. Em 2003, a agência Saatchi & Saatchi inovou no limiar com um anúncio para a Audi, exposto na Dinamarca.
 
O outdoor aparentava ser, em princípio, uma placa única de metal, lisa e sem qualquer imagem ou inscrição. Todavia, com o passar dos dias, o clima úmido foi enferrujando a superfície, tornando visível a silhueta do veículo, a logomarca da empresa e a frase “All Aluminium Audi A2”. Ou seja, o aço, por oxidar de forma muito mais agressiva que o alumínio, demonstrava o diferencial do novo veículo.
 
Só para registrar, o trabalho recebeu dois prêmios: Leão de Ouro, no Festival de Cannes, e o Lápis de Ouro, no One Show.
 
6. Delivery. O serviço de entrega em domicílio revolucionou boa parte do varejo, integrando o DNA de operações como pizzarias e drogarias. A inovação no limiar estendeu o mesmo princípio aos supermercados, trazendo conforto e praticidade a um grupo especial de consumidores.
 
7. Montanha robótica. A empresa alemã Kuka Robotics fabrica robôs como o Titan 1000, capaz de levantar uma tonelada e mover-se com precisão para qualquer direção num raio de nove metros e a uma altura de até cinco metros. Este mesmo robô foi adaptado para parques de diversão em Londres e no Canadá criando uma espécie de montanha russa compacta proporcionando aos usuários uma experiência diferenciada e aos investidores um ótimo retorno sobre o investimento.
 
8. Car sharing. Imagine ter acesso a veículos diversos, espalhados por vários pontos da cidade, pagando uma diária ou valor fixo por hora, com combustível, seguro e manutenção incluídos. Assim funciona o sistema de compartilhamento de veículos criado na Suíça em 1988 e já disponível em mais de mil cidades no mundo. A inovação no limiar deriva de sistema similar aplicado a casas de veraneio, barcos e até mesmo bolsas de grife.
 
9. Eleições. A vitória de Barack Obama deve muito à internet e às redes sociais. Da arrecadação de recursos à convocação de voluntários, passando pela divulgação da campanha e formação da opinião pública. Uma inovação no limiar no jeito de fazer política, integrando o mundo on-line ao off-line.
 
10. Celulares e internet. Com os celulares, temos a convergência aplicada ao limite. Eles batem foto, gravam vídeos, enviam mensagens de texto, permitem ouvir rádio, músicas, acessar a internet, registrar compromissos, jogar e… até falar!
 
Já a internet marca o tipo de inovação que podemos qualificar como superlimiar. Da máquina de escrever aos processadores de texto, da fotografia ao Photoshop, das pranchetas ao AutoCAD. E as evoluções dentro do próprio meio: do site para os blogs, do ICQ para o MSN, do e-mail para o Twitter.
 
O mundo corporativo passa por crises constantes. Nestes momentos, é comum ver políticas de caça às bruxas e cortes nos orçamentos suspenderem programas voltados à inovação, desperdiçando grande oportunidade de se estabelecer diferenciais competitivos duradouros.
 
O século passado foi dominado pelos EUA. Mais ainda, ficou marcado por dividir o mundo entre nações ricas e pobres. Antes da crise financeira de 2008, inferia-se que este poderia ser o século da Europa, com o fortalecimento do euro. Agora, aposta-se na China, com suas taxas galopantes de crescimento econômico. Eu acredito que este período marcará uma nova divisão, desta vez entre as nações que sabem e as que não sabem. E a vanguarda estará nas mãos das pessoas, empresas e nações capazes de inovar no limiar.
 

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